Moldando uma cultura organizacional eficaz
08/07/2022
*Artigo originalmente postado no blog da Talent Academy, spin off do Grupo MBA Empresarial
A estratégia era vista como a chave para o sucesso dos negócios. Depois, o propósito tornou-se um fator essencial. Mas há algo mais: a cultura organizacional. Hubert Joly pensa nesses 3 como uma tríade e mostra algumas alavancas para moldar uma cultura eficaz.
Tradicionalmente, a estratégia era vista como a chave para o sucesso dos negócios. Mais recentemente, o propósito se tornou um elemento fundamental para o mesmo – a “estrela norteadora” e a grande inspiração para orientar todas as atividades de uma organização, como trouxemos em nosso artigo anterior “O futuro do trabalho tem raízes no propósito“. Mas a verdade é que, muitas vezes, há uma grande lacuna entre o propósito de uma empresa e a experiência de seus colaboradores(as). Pois é, se você por acaso ainda não sabia, fique sabendo agora: uma simples campanha de comunicação sobre o novo propósito da companhia não fará milagres por si só… cultura organizacional
Afinal, o que então está faltando? Além de propósito e estratégia, outra coisa é crítica: sim, nós estamos falando da cultura organizacional – ou os elementos essenciais de como uma organização e seus colaboradores(as) se comportam, bem como suas crenças, valores, princípios governantes. E, no entanto, Hubert Joly – professor sênior da Harvard Business School e ex-presidente da Best Buy (empresa multinacional de eletrônicos dos EUA), considerado um dos maiores CEOs do mundo – aponta que a cultura geralmente recebe menos atenção do que a estratégia e, até mesmo, do que o propósito.
Como líder organizacional que estuda outros(as) líderes organizacionais, Joly hoje acredita que uma conexão estreita entre propósito, estratégia e cultura é extremamente importante, pois a cultura desempenha um papel muito poderoso em dar vida ao propósito e à estratégia. Ele também acredita que lideranças são capazes de moldar a cultura das empresas de forma mais rápida e profunda do que normalmente se pensa.
O triângulo propósito-estratégia-cultura (não necessariamente nessa ordem)
O que empresas de sucesso como Microsoft, Netflix, Best Buy e muitas outras têm em comum? Bom, a cultura tem sido o solo fértil que permitiu que seu propósito e estratégia ganhassem vida e gerassem um desempenho extraordinário em escala. Na experiência de Hubert Joly, a magia acontece quando propósito, estratégia e cultura organizacional estão intimamente conectados e alinhados, reforçando-se mutuamente. E por quê? Pois segundo o professor, os colaboradores(as) devem estar dispostos e capazes de liberar seu gênio humano individual e coletivo para apoiar o propósito e a estratégia da empresa, e isso só pode acontecer em uma cultura perfeitamente alinhada com ambos.
Quando Satya Nadella (na foto) se tornou CEO da Microsoft em 2014, por exemplo, a empresa era antes conhecida por sua cultura agressiva, combativa e competitiva. Estava perdendo terreno, tendo deixado passar as principais ondas de inovação tecnológica. Mas a Microsoft conseguiu dar a volta por cima. Sim, Nadella e sua equipe atualizaram o propósito da empresa visando colocar um computador em cada mesa que existe para “capacitar cada pessoa e cada organização no planeta a alcançar mais”.
Mas Joly acredita que o principal impulsionador do surpreendente ressurgimento da Microsoft foi a reinvenção de sua cultura em apoio a esse propósito, o que implicava abordar necessidades não atendidas e desarticuladas. O ponto central dessa estratégia foi passar de uma cultura dominante de “sabe-tudo” e mentalidade de jogo de soma zero (onde o ganho de um jogador representa necessariamente a perda para o outro jogador) para uma mentalidade de crescimento e uma cultura mais empática e aberta.
Do outro lado, culturas tóxicas têm sido responsáveis pela queda das empresas e/ou de seus líderes. Joly gosta então de pensar em propósito, estratégia e cultura organizacional como um triângulo: cada ângulo se conecta e molda os outros dois, e se um muda, os outros dois devem evoluir e se ajustar para manter o equilíbrio e a forma, ou o triângulo se quebra e desmorona. O ângulo em que você se concentra primeiro ou em um determinado momento depende inteiramente das circunstâncias. Como disseram à Joly uma vez, tentar fazer tudo bem o tempo todo é uma receita para a “mediocridade heroica”.
Quando o professor se tornou CEO da Best Buy em 2012, por exemplo, a companhia estava com sérios problemas. A prioridade era agir rapidamente, consertar as operações (o que significa executar melhor a estratégia existente) e criar a energia, a esperança e o espírito de todas as mãos no convés que permitiriam que os envolvidos salvassem a empresa juntos. Não era hora de refletir sobre o propósito corporativo com palavras elegantes ou elaborar uma nova estratégia de longo prazo.
Os tempos exigiam melhorias operacionais diretas, o que ajudou a reacender a cultura da Best Buy em torno de clientes e colaboradores(as) da linha de frente. Alguns anos mais tarde, depois de estabilizarem o negócio, a empresa se sentiu pronta para passar da sobrevivência ao crescimento. Foi quando definiram o propósito da empresa de enriquecer vidas por meio da tecnologia, ajustando a estratégia de acordo e começando a remodelar a cultura organizacional para dar vida a esse propósito.